quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Gente humilde


Certa vez pensei ter descoberto a origem da nobreza de um homem, mas estava enganado. E a cada tropeço com uma pessoa de mais idade abro os olhos para antigos enganos.

Nas vésperas de completar seu centenário, Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares declamou toda sua poesia, já impressa em pilares, com olhos sedentos por vida.

Em uma entrevista para BBC, Niemeyer faz declarações com simplicidade de um nobre que sabe o seu valor, mas não espera o reconhecimento de ninguém.

"A data não é importante. A idade não é importante. O tempo não é importante. A arquitetura não é importante. O que nós criamos não é importante. Somos muito insignificantes. O que é importante é ser tranqüilo e otimista."

"O que me faz levantar todas as manhãs é o mesmo de sempre: a luta, o comunismo puro e simples”

"Fidel, Chávez, eles representam a luta de hoje. O capitalismo domina, mas ele vai fracassar. Tenho fé nisso. A revolução não pode parar.”

Chico Buarque diria: “É Gente Humilde, que vontade de chorar.”

Kinho Vaz traduziria: “Sempre vale a pena sonhar/ Todo sonho é bom, viver/ Você tem que acreditar/ Vai acontecer.”


Que nó na garganta...


Paradoxo


Tem coisa mais bonita do que “Paradoxo”? Quando essa palavra é usada, o seu discurso ganha vigor. Ganha vida. Ainda mais sendo uma argumentação acusativa da fala alheia. “Você está sendo paradoxal!”. Quem escuta, até acredita e se imagina, mesmo que por um segundo, o culpado da história.

Sol e chuva. Velocidade no congestionamento. Calor glacial. Fernando Henrique Cardoso. Estes são os exemplos mais claros desta famosa figura de linguagem. Aliás, a cara do nosso país é um paradoxo.

A começar pela bandeira. Um artigo que tem como finalidade dar identidade a alguma instituição. Benjamin Constant, em um lapso de consciência, liberou o decreto nº 4 de 19 de novembro de 1889 adotando oficialmente as palavras Ordem e Progresso para simbolizar esta nova república. Brincadeira? Só pode ter sido.

Mas brincadeira mesmo vem agora. O órgão da ONU responsável pelo desenvolvimento anunciou esta semana que o Brasil conquistava o patamar de “alto desenvolvimento humano”, de acordo com um levantamento elaborado desde 1990. E aqui começa a piada: o mesmo ainda teve a audácia de afirmar apresentamos avanços importantes em educação, saúde e riqueza.

De fato moramos em um país rico, mas somente em recursos naturais. Saúde? Bem, temos para dar e vender. Quem não quiser comprar tem que chegar cedo para pegar senha. Educação? Uma beleza de paradoxo.

Essas maravilhas de frases não caem no vestibular... Ajudaria tanto!

Isso se o pessoal soubesse ler. No último ranking produzido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) os estudantes brasileiros foram classificados como uns dos piores do mundo no conhecimento da matemática e na capacidade de leitura.

Pelo visto, estamos de parabéns. Afinal, conquistamos uma posição no ranking! Resultado de nossa ordem trabalhando para o progresso.

Enquanto isso, o povo brasileiro continua somando e dividindo.

Garçom mais dois! E meia porção de aipim, por favor.


Referência: BBCBrasil.com